segunda-feira, 12 de abril de 2021

Mãe e Filha Nas Mãos da Vida – Em Homenagem às Mães Que Não Jogam Seus Filhos no Lixo

 


Aparecida dos Santos, em andrajos, com uma criança faminta no colo, disse:

 - Clarinha, mamãe vai levar você num lugar em que a alimentarão, dar-lhe-ão roupas e você não passará mais fome e nem frio. Quando eu puder, voltarei para lhe buscar.

 A menina, de seis anos, chorava.

 - Não quero ficar longe da senhora.

 O coração de Aparecida doía, tamanho era o sofrimento. Mas, não houve jeito. Tinha que ser assim. Ela colocou a filha no chão, em frente a um orfanato e falou:

 - Filha, fica aí. Vou tocar a campainha e quando alguém aparecer, diga que eu fui embora procurar emprego e que quando eu puder voltarei.

 As duas em pranto, deram um abraço apertado. Lágrimas se misturaram. A mulher, após apertar a campainha, foi embora rapidamente. A criança foi recolhida e após dois anos foi adotada por um simpático casal que desejava muito ter uma filha. Com o tempo, a menina parou de chorar. Teve imenso carinho dos pais adotivos, mas sempre desejou saber notícias de sua mãe. Cresceu inteligente e formou-se em medicina.

 Certa tarde, estando a fazer a visita costumeira aos pacientes no hospital, ao auscultar uma senhorinha, percebeu que uma paciente no leito ao lado, estava imersa em aflição. Os gemidos baixos se perdiam no quarto. A doutora, penalizada, aproximou-se da mulher e viu que ela não tinha o dedo indicador da mão direita. Lembrou-se de sua mãe, que também não tinha o dedo indicador da mão direita. Numa briga com o ex-marido, havia tido o dedo decepado. Prestou atenção na cor da pele, nos olhos, na boca... meu Deus, pensava... será ela? Tão parecida com minha mãe!

Aproximou-se e perguntou:

- Qual seu nome, senhora?

- Aparecida dos Santos.

- O que aconteceu em sua mão?

- Há muitos anos, meu ex-marido decepou meu dedo.

Ansiosa, a doutora perguntou:

- Tem família?

- Tenho uma filha que não sei onde está... meu anjinho... tive que abandoná-la num orfanato. Não pude voltar para pegá-la, pois me faltou emprego, roupa e pão. Hoje vivo da caridade dos bons. O câncer se desenvolveu em mim devido a angústia. Mais um tempo e partirei sem ver minha filha. Peço sempre para que Deus me ajude a ver minha menina pela última vez.

- Como é o nome de sua filha?

- Clara Aparecida dos Santos, minha Clarinha.

- Qual orfanato a senhora deixou sua filha?

- No orfanato Santa Cecília.

- Em que ano?

- 1970.

Clara, abaixou e abraçou sua mãe.

- Sou eu mãe, a sua Clarinha. Como esperei por esse momento!

Fartas lágrimas se extravasaram. Lágrimas de grande emoção, de alegria. Enfermeiras chegaram, médicos também... palmas e louvores... gratidão eterna, Senhor!

É por isso, meus irmãos, que temos que confiar em Deus. Clarinha me levou para sua casa. Seus pais adotivos me cumularam de atenção. Ganhei roupas boas e alimentação farta. Vivi ainda um ano e meio tendo o carinho de minha filha. Morri feliz e aliviada em seus braços. Deus é bom para quem tem fé. E eu tive, sabia que veria novamente a Clarinha.

Com amor, dedico minha história a todas as mães que não jogam seus filhos no lixo, às mães que tudo fazem para preservar a vida de suas crianças.

 

Maria Aparecida dos Santos

Psicografia: Maria Nilceia

12/04/2021